quinta-feira, 15 de outubro de 2009


Preconceito contra as mulheres


As mulheres que trabalham fora sofrem as pressões da vida profissional e ainda acumulam as funções de mãe e dona de casa. As que se dedicam apenas ao lar e à família e não conhecem o mundo além dos muros de sua casa - com exceção da igreja e do posto de saúde - adoecem psicologicamente. A constatação é da historiadora e professora de sociologia Valdete Daufemback Niehues, que em abril defende a tese de mestrado em história na Universidade Federal de Santa Catarina.As mudanças, na avaliação da historiadora, precisam começar em casa, mas é preciso coragem. "É um romper penoso e desconfortante", adverte, considerando que, embora a mulher não tenha se arrependido de lutar pela autonomia financeira - mesmo que isso signifique dobrar a jornada de trabalho -, ela ainda está longe de conquistar o poder de decisão. "Em casa, a mulher está sempre à mercê das vontades do marido. A vida não é efetivamente dela. A cultura de dominação ainda é muito forte na nossa sociedade. Os únicos locais que a mulher tem para socialização são a igreja e as filas nos postos de saúde", avalia.Durante os dois anos de pesquisa para o embasamento da dissertação de mestrado, Valdete fez constatações que, segundo ela, são preocupantes. "A mulher que fica em casa adoece mais e, sem ter à disposição um trabalho sério para recuperação da auto-estima, acaba recorrendo à medicina. Das mulheres entrevistadas, apenas 10% nunca fizeram uso de psicotrópicos como calmantes e remédios para depressão", anuncia a historiadora. A falta de espaços de lazer apropriados para a família e o medo da violência também fazem com que as mulheres permaneçam "trancadas" em casa. "A sociedade é machista, individualista e as mulheres estão infelizes. O problema é que elas são as mantenedoras do machismo, elas educam os filhos dessa maneira. As meninas devem ser obedientes, devem estar prontas para receber elogios. Dos meninos todos esperam travessuras. O que vamos esperar de uma sociedade com esse tipo de educação?", questiona.
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A única saída para romper o círculo vicioso é mudar a rotina da casa, é dividir tarefas de modo igual entre os filhos. "É preciso também que elas conheçam outros tipos de relacionamento social, outras culturas. Só assim entenderão que nosso sistema não é único e pode ser modificado", diz Valdete. Para discutir questões como essa, o Centro de Direitos Humanos de Joinville vem promovendo fóruns de debate, mas, segundo a historiadora, é difícil montar grupos para discussões sobre o papel da mulher na sociedade."Elas só aparecem nos encontros se tiver culto ecumênico. É como se apenas rezar fosse a solução. Além disso, falar das problemáticas sociais resulta em mudanças de comportamento e geram desconforto. Temendo tudo isso, as mulheres ainda preferem ficar em casa", revela Valdete.




Fragilidade e submissão são imagens que sempre foram associadas à mulher, e foi a partir desse ‘pensamento’ que se fundamentou o preconceito contra a mulher. Ainda hoje, as mulheres são vistas como indivíduos inferiores, e a causa dessa discriminação é conseqüência de um passado opressor e depreciador. Cerca de 60% do trabalho no Brasil é executado por mulheres, mas isso não significa que tenham acabado as desigualdades de gênero; muito ainda necessita ser feito para a elevação da condição da mulher em nosso país. Dados mostram que as mulheres são mais exploradas que os homens, e que economicamente ainda são uma mão-de-obra barata.Em relação à violência, muitos homens veem a mulher como objeto de uso particular. Segundo dados da pesquisa realizada pela Fundação Perseu Abramo, o marido é o maior agressor, depois dele aparecem na lista o ex-marido, ex- companheiro e ex-namorado. Dentre os maus tratos sofridos pelas mulheres destacam-se espancamento, descontrole violento ou ameaça, assedio sexual e ofensas a conduta moral da mulher. No entanto a maioria dos casos não é investigada nem punida. Isso prova que o preconceito contra a mulher no Brasil é um problema cultural que envolve desprezo e desvalorização da mulher como pessoa.Apesar disso, a mulher aos poucos vem construindo e desconstruindo conceitos e pré-conceitos que o mundo machista impôs, numa “incansável batalha pela sua libertação da opressão sexual, moral e material que tem produzido efeitos formidáveis e conquistas irreversíveis”.

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